Joleen MacBrien pedalava a toda a força rua abaixo fazendo entornar toda a sua raiva no escuro da noite. Os cabelos faziam-lhe uma comichão terrível junto às costas, dentro da T-Shirt mal vestida. Mas isso não era o pior. Havia coisas que a incomodavam muito mais, como por exemplo a discussão que tivera com o namorado, e o facto de a ter posto fora de casa. Pensando bem, fora ela quem metera mais lenha para a fogueira, mas ele não tinha o direito. Não tinha!
A estrada era esguia, com curvas e inclinada. Não havia nada à sua volta a não ser árvores sombrias que se moviam para a frente e para trás à medida que a luz fraca da bicicleta tremeluzia. Mas Joleen não se podia queixar, a estrada era boa e sem buracos… ao menos isso!
Estava frio. Não muito, mas Joleen tremia. Vestia uma T-Shirt e uma gabardine por cima, e também umas calças de ganga que não facilitavam nada os movimentos. Estava sozinha numa estrada que não conhecia, às tantas horas da noite no meio do nada!
Mudara-se para o subúrbio à cerca de dois meses para casa do namorado. Isso foi realmente uma má ideia! Mas porque é que nunca se aguentava em lugar nenhum? Saíra de casa dos pais para poder partilhar uma vida a dois com a sua cara-metade, mas deu a parecer que fora um passo em falso para ambos. Agora só desejava voltar para a sua terra!
Estava escuro como o breu ali. Joleen não sabia como havia conseguido chegar a tão longe, mas começava a sentir-se preocupada. À sua volta só encontrava a entrada para um bosque mergulhado na escuridão e o ruído que vinha de lá sussurrava nos seus ouvidos fazendo-a resfriar até ao seu mais íntimo.
Oh… só faltava mais esta! – Pensou ela quando começou a sentir as primeiras gotas de chuva a caírem sobre a testa. A estrada num ápice ficaria molhada e escorregadia e não ia ter mais visibilidade, se a chuva aumentasse, mas era o mais certo isso acontecer. Se calhar o melhor era abrandar ou mesmo parar, mas estava no meio de uma estrada de duas vias apertadas, sem bermas que não tivessem silvas ou mato denso. Tinha de continuar para chegar o mais rápido possível à cidade. Continuou a pedalar a toda a força. Ouviu os seus CDs e toda a tralha a chocalhar dentro da mochila quando fez uma curva apertada. As rodas da bicicleta deslizavam demasiado fácil para mais tarde ou mais cedo derraparem e o seu destino ser ficar toda a noite ali cheia de dores sem poder chamar ninguém. Mas continuou. Ouvia o seu coração a bater forte no meio do barulho da chuva prateada a bater violentamente no chão. Não conseguia ver nada de nada.
Bono atirou o cigarro pela janela antes que os seus estofes fofos ficassem cheios de fumo. Pensou ter acordado de um sono longo quando sentiu que a chuva o rodeava. Esfregou os olhos vermelhos e tentou concentrar-se. Dava palmadinhas impacientes no volante enquanto o limpa-pára-brisas fazia o seu trabalho árduo. A visão era dificultada pelas gotas que batiam no vidro como pregos por isso viu-se obrigado a ligar os máximos.
- Que raio de rua cheia de curvas… ooh, ou será que estás bêbado, amigo? – Falou ele variando de tom consecutivamente. - Mas acho que nunca passei por aqui… Estás perdido! Eu bem disse que não devia de ter vindo sozinho para casa, mas tu disseste “Não… Bono, não estás bêbado, estás só sob o efeito do álcool!” E eu acreditei em ti…. Meu, és um pai de família, tens uma banda… não podes ser tão irresponsável… tens de sair daqui rapidamente. – Dizia ele baixinho tentando manter-se acordado e consciente.
Bono regressava de uma festa. Ou pelo menos tentava. Tinha saído de lá sem ninguém ter dado conta e estava a caminho de casa no seu Cortina amarelo canário com o interior de leopardo. Sempre desconfiou que estariam algumas bebidas envolvidas quando ele escolhera aquele carro… como agora.
Tentou levar o seu pé adormecido até ao travão quando algo se atravessou à sua frente, mas ainda fez pior pressionando o acelerador. Os seus olhos esbugalharam-se quando viu alguém a rebolar por cima do capô e a voltar a desaparecer à sua frente. Travou o carro e desligou tudo à pressa tentando manter a calma. O seu coração dançava louco dentro do seu peito e sentia-se terrivelmente mal, como se fosse explodir. Tinha atropelado alguma coisa, alguma coisa com vida. Tentou raciocinar mas não conseguia.
Abriu a porta e saiu a cambalear pela chuva até ao sítio onde o vulto desapareceu.
- Só posso estar a delirar! – Murmurou ele olhando à sua frente. – Uma bicicleta?
A estrada era esguia, com curvas e inclinada. Não havia nada à sua volta a não ser árvores sombrias que se moviam para a frente e para trás à medida que a luz fraca da bicicleta tremeluzia. Mas Joleen não se podia queixar, a estrada era boa e sem buracos… ao menos isso!
Estava frio. Não muito, mas Joleen tremia. Vestia uma T-Shirt e uma gabardine por cima, e também umas calças de ganga que não facilitavam nada os movimentos. Estava sozinha numa estrada que não conhecia, às tantas horas da noite no meio do nada!
Mudara-se para o subúrbio à cerca de dois meses para casa do namorado. Isso foi realmente uma má ideia! Mas porque é que nunca se aguentava em lugar nenhum? Saíra de casa dos pais para poder partilhar uma vida a dois com a sua cara-metade, mas deu a parecer que fora um passo em falso para ambos. Agora só desejava voltar para a sua terra!
Estava escuro como o breu ali. Joleen não sabia como havia conseguido chegar a tão longe, mas começava a sentir-se preocupada. À sua volta só encontrava a entrada para um bosque mergulhado na escuridão e o ruído que vinha de lá sussurrava nos seus ouvidos fazendo-a resfriar até ao seu mais íntimo.
Oh… só faltava mais esta! – Pensou ela quando começou a sentir as primeiras gotas de chuva a caírem sobre a testa. A estrada num ápice ficaria molhada e escorregadia e não ia ter mais visibilidade, se a chuva aumentasse, mas era o mais certo isso acontecer. Se calhar o melhor era abrandar ou mesmo parar, mas estava no meio de uma estrada de duas vias apertadas, sem bermas que não tivessem silvas ou mato denso. Tinha de continuar para chegar o mais rápido possível à cidade. Continuou a pedalar a toda a força. Ouviu os seus CDs e toda a tralha a chocalhar dentro da mochila quando fez uma curva apertada. As rodas da bicicleta deslizavam demasiado fácil para mais tarde ou mais cedo derraparem e o seu destino ser ficar toda a noite ali cheia de dores sem poder chamar ninguém. Mas continuou. Ouvia o seu coração a bater forte no meio do barulho da chuva prateada a bater violentamente no chão. Não conseguia ver nada de nada.
Bono atirou o cigarro pela janela antes que os seus estofes fofos ficassem cheios de fumo. Pensou ter acordado de um sono longo quando sentiu que a chuva o rodeava. Esfregou os olhos vermelhos e tentou concentrar-se. Dava palmadinhas impacientes no volante enquanto o limpa-pára-brisas fazia o seu trabalho árduo. A visão era dificultada pelas gotas que batiam no vidro como pregos por isso viu-se obrigado a ligar os máximos.
- Que raio de rua cheia de curvas… ooh, ou será que estás bêbado, amigo? – Falou ele variando de tom consecutivamente. - Mas acho que nunca passei por aqui… Estás perdido! Eu bem disse que não devia de ter vindo sozinho para casa, mas tu disseste “Não… Bono, não estás bêbado, estás só sob o efeito do álcool!” E eu acreditei em ti…. Meu, és um pai de família, tens uma banda… não podes ser tão irresponsável… tens de sair daqui rapidamente. – Dizia ele baixinho tentando manter-se acordado e consciente.
Bono regressava de uma festa. Ou pelo menos tentava. Tinha saído de lá sem ninguém ter dado conta e estava a caminho de casa no seu Cortina amarelo canário com o interior de leopardo. Sempre desconfiou que estariam algumas bebidas envolvidas quando ele escolhera aquele carro… como agora.
Tentou levar o seu pé adormecido até ao travão quando algo se atravessou à sua frente, mas ainda fez pior pressionando o acelerador. Os seus olhos esbugalharam-se quando viu alguém a rebolar por cima do capô e a voltar a desaparecer à sua frente. Travou o carro e desligou tudo à pressa tentando manter a calma. O seu coração dançava louco dentro do seu peito e sentia-se terrivelmente mal, como se fosse explodir. Tinha atropelado alguma coisa, alguma coisa com vida. Tentou raciocinar mas não conseguia.
Abriu a porta e saiu a cambalear pela chuva até ao sítio onde o vulto desapareceu.
- Só posso estar a delirar! – Murmurou ele olhando à sua frente. – Uma bicicleta?
2 de Setembro de 1993
- E então?
- Não, não me parece que seja muito grave, pelo menos pelo que estou a ver agora, mas tenho de fazer exames mais intensivos.
- Vai ter de levá-la?
- Não… Oh, olá querida! Eu acho que já acordou.
Joleen olhou no seu campo de visão meio turvo. Doía-lhe a cabeça e não conseguia pensar nem falar. Os dois homens olhavam-na como se ela fosse um bicho raro, pelo menos um parecia estar muito curioso e interessado nela. O outro inspeccionava-a de cima a baixo por cima dos óculos, com um ar muito calmo e cuidadoso.
- Consegue ouvir-nos?
O homem de óculos escrevia qualquer coisa num bloco de notas enquanto o outro caminhava nervoso de um lado para o outro dentro de uma roupa um bocado estranha. Joleen voltou a fechar os olhos, pesavam-lhe muito, queria dormir, só isso.
Ouviu um barulho irritante vindo de trás de si. Remexeu-se dentro do cobertor quente e gemeu das dores. O barulho parou e sentiu alguém por perto. A luz invadiu-se a vista sem dó nem piedade quando abriu os olhos. Tentou levantar-se.
- Não! É melhor ficares aí, queres um bocado de café?
Ele olhava-a por trás da imensidão do azul dos seus olhos inchados. Estava sentado numa cadeira diante de si com uma caneca a fumegar no colo. Vestia uma T-Shirt branca amarrotada e umas calças de ganga escuras afuniladas até aos tornozelos. Apesar de parecer desajeitado e aluado sorria brandamente fazendo os seus olhos brilharem ainda mais.
- Sentes-te bem? Precisas de alguma coisa? – Pergunta ele inclinando-se para a frente encarando-a. – Se calhar era boa ideia ficares aí mais algum tempo, ou se quiseres ir para casa eu levo-te… - Depois voltou a encostar-se na sua cadeira e bebericou o que Joleen julgou ser café.
A sua voz era irregular e gaguejava de uma forma bastante engraçada, que fazia Joleen pensar que estava bastante atrapalhado.
- O que aconteceu? Dói-me a cabeça! – Disse ela levando instintivamente a mão acima da sua cabeça.
- Oh, imagino que sim! – Responde ele a rir-se baixinho. – Deve doer bem mais do que a minha, embora eu também… - Bebeu um gole do seu café e não terminou a frase. – Queres um bocado? – Pergunta ele sorrindo estendendo a caneca na sua direcção.
Joleen olhou para ele e corou quando percebeu que nem sequer o conhecia. – Bem, eu…
- Oh, desculpa! Eu vou-te fazer um café só para ti! – Diz ele pronto a levantar-se.
- Não, deixe estar! – Joleen aceita a chávena. – Eu posso beber daí, não me importo.
O homem voltou a sentar-se e ficou a vê-la tomar o seu café. Joleen sentiu a bebida forte e adocicada aquecer todo o seu corpo, gradualmente.
- Desculpe fazer-lhe esta pergunta, mas eu supostamente deveria saber onde estou e com quem estou? – Pergunta Joleen voltando a entregar a púcara ao dono.
- Oh, não, não peças desculpas! Tu estás em minha casa, e eu sou o Bono! Muito prazer! – Disse ele rindo-se e tomando mais um golinho.
- Hum… e como é que eu vim aqui parar?
- Eu trouxe-te.
- Eu conheço-o?
- Não sei… talvez. Mas não creio que nos tenhamos visto alguma vez antes do acidente.
- Qual acidente? Ai… - Queixou-se Joleen quando se tentou sentar direita no sofá. Tinha as pernas tão doridas que suspeitava que estivessem bastante magoadas.
- O que foi? – Pergunta ele imediatamente ajoelhando-se à sua beira.
- Dói-me!
- Hum… talvez devêssemos ver isso, podem estar fracturadas ou pisadas, não sei… - Diz-lhe ele afastando os cobertores.
- Não, não é preciso! – Responde Joleen cobrindo-se de novo. – Pode dizer-me que raio de acidente eu tive?
- Eu atropelei-te. Essa perda de memória é normal, o médico disse isso, mas é temporário, não te preocupes.
Bono tornou a sentar-se.
- Você atropelou-me? Como?
- Eu não sei bem, receio que estava um bocado bêbado… Mas tu atravessaste-te à minha frente e eu não consegui parar… ou, atrapalhei-me todo, enfim! Ias de bicicleta… ela é que não teve salvação possível. Estava a chover muito na altura, lembras-te disso?
- Acho que sim. Mas não sei bem…
- Pois, eu meto-me nestas minhas aventuras heróicas e pus a vida de uma pessoa em perigo. Peço imensa desculpa… Quer dizer, sei que não devia desculpar-me mas sim deixar de conduzir naquele estado, mas eu ia por um atalho e não fazia ideia que estavas ali… Não estou a tentar livrar-me da minha culpa! Estou só a dizer como tudo se passou… Se tu quiseres fazer queixa à polícia, fica à vontade, mas nas próximas 24 horas pelo menos vais ficar deitada aí, ou podes ir para o meu quarto se preferires.
Bono levantou-se e saiu da sala lentamente. Joleen voltou a ouvir aquele som irritante vindo atrás de si e apercebeu-se que devia de ser uma máquina de café. Olhou à sua volta ainda meia estonteada. A sala era magnífica. Espaçosa e a janela cobria toda a parede à sua frente. Entrava bastante claridade mas Joleen sabia que ainda era cedo. À sua frente estava uma pequena mesa com revistas e alguns CDs, tudo lhe parecia bastante familiar. Olhou para trás de si, por cima das costas do sofá e reparou que a sala fazia ligação com a cozinha onde o Bono estava a preparar qualquer coisa. Joleen pegou em alguns CDs curiosa devido às suas capas bastante conhecidas dela. U2 era o nome de todos eles. U2… Uma banda. Uma banda Irlandesa, sim, lembrava-se disso! Reconhecera também aquele CD de capa púrpura com as 12 estrelas da União Europeia que rodeavam um desenho de uma cara.
- Zooropa… - Murmurou Joleen contente por se lembrar do nome sem o ler.
- Sim, não perdeste tempo em comprá-lo, não foi? – Bono falou por trás dela fazendo-a dar um salto de surpresa. – Sinceramente estou ansioso por saber da reacção das pessoas quando o ouvirem! – Disse ele num tom desafiador.
- Oh… Hãm… - Joleen arrumou outra vez os CDs em cima da mesa como estavam e puxou o cobertor até ao pescoço.
- Desculpa por ter desarrumado as tuas coisas. Andei à procura de algum contacto dentro da tua mochila, e só encontrei isso. – Disse Bono contornando o sofá.
- Ah. – Disse a moça embaraçada. Foi então que viu a revista e pegou nela de imediato. O sujeito da capa era um bocado estranho, mas Joleen gostava dele e percebeu logo tudo. Vestia um casaco de couro brilhante, desapertado e usava uns grandes óculos pretos fazendo esconder os lindos olhos azuis que tinha. O cabelo era espesso, preto e despenteado.
Joleen riu-se da sua própria figura acompanhada por Bono que se sentava aos seus pés sem tirar os olhos dela, curioso por ouvir algo da sua boca.
- Senhor Bono, creio que terei de recorrer à chantagem para que não seja necessário um rock star passar uma noite na cadeia por ter conduzido com excesso de álcool no sangue e por ter atropelado uma pobre e inocente rapariga. E também por tentativa de rapto da mesma. – Falou Joleen num tom irónico. Bono desata a rir.
- Estou a falar a sério! Não me podes deixar ir embora sem pelo menos os meus CDs estarem autografados por todos os membros da banda e gostaria de ter algumas previsões para a nova digressão. É um preço bastante justo por me teres atropelado!
- Não percebo porquê. – Disse Bono pouco sério.
- Ei, não é todos os dias que se atropela uma fã de U2! Muito menos quando és tu próprio a fazê-lo!
- Não tive culpa que te tivesses metido no meu caminho! – Exclamou ele fazendo um sorriso inocente.
- Ninguém teve culpa de nada, foi apenas uma mãozinha do destino! O teu destino foi atropelares-me, e o meu destino será concretizar as minhas exigências. E além disso, ainda não temos a certeza se fui eu que me pus no teu caminho ou tu no meu!
Bono reflectiu por momentos enquanto ambos se esforçavam para não se rirem.
- Pensei por momentos que o teu destino fosse seres atropelada por mim e o meu ser receber-te na minha casa!
- Eu fiquei com as minhas costas numa miséria e o meu destino fica-se apenas por aí? Porque haverias tu de ficar com a melhor parte? Receber-me em tua casa… pensei que isso fosse mais valorizado por mim… ou não será assim? – Incita Joleen.
- Eu não disse que ficava com a melhor parte. E o facto de eu te ter atropelado também não foi algo que me tenha orgulhado de fazer! – Bono fala em sua defesa
- Eu sei, por isso é que eu vou fazer com que deixe de ser um erro e passe a ser um acaso feliz.
Bono olha-a derrotado, mas prestes a ser convertido.
- Então… foi um autógrafo que pediste, não foi?
Joleen sorri enquanto Bono se levantava.
- Um almoço cozinhado por mim especialmente para ti não consta na tua lista de exigências? – Pergunta ele divertido dirigindo-me para a cozinha. – Não costumo cozinhar para mim mesmo sequer, mas hoje terei de o fazer se não quiser que a minha hóspede passe fome! Então aí é que eu estaria em maus lençóis se isso acontecesse! Do que seria o meu destino, então?
Joleen levanta-se e segue-o.
- Eu acho que a pergunta está errada. Eu acho que devias pensar primeiro do que será de ti se a tua comida me agradar!
Fim
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